Mesmo que você nunca tenha brincado com uma “Barbie”, você a conhece, ou, minimamente, já ouviu falar nela.
A boneca, lançada pela Mattel em 1959, é um verdadeiro fenômeno de vendas, e agora chega às telonas no formato live-action, com uma trama bem atual e diferente do que as pessoas possam pensar…
Para imaginar o universo da boneca, basta um exercício: o que te vem à cabeça quando você pensa em “Barbie”?
Casa da Barbie; carro da Barbie; Barbie nas mais diferentes profissões e versões que vão desde a Barbie Médica à Barbie Sereia, o “namorado” da Barbie, o Ken, e por aí vai.
Todo esse “universo” está muito bem representado nas telonas, de forma supercolorida e lúdica, porém, carregado de ironias, piadas e sarcasmo – e esse é o “pulo” da diretora Greta Gerwig.
O objetivo da cineasta era justamente explorar o universo da Barbie, e é claro, fazer críticas ao mundo “cor-de-rosa” e fútil da boneca, que só existe no “faz de conta”, e não no mundo real.
A trama mostra a Barbie em sua rotina de todos os dias, onde sua única preocupação é ser perfeita. Acordar linda, dar festas, trocar de roupa, ver as amigas, ir à praia, e por aí vai. Até porque, nossa “Barbie” protagonista (Margot Robbie) é uma “Barbie Esteriotipada”, ou seja, uma Barbie “Padrão”, sem muito a oferecer, que não seja um sorriso perfeito. Todos os dias são lindos e perfeitos em “Barbieland”.
Mas, quando algumas coisas começam a dar errado no cotidiano da boneca, a protagonista se vê tendo de ir ao mundo real, para tentar consertar os seus pequenos “defeitos”.
Na jornada até o mundo de verdade, Barbie precisa lidar com situações que as mulheres – de verdade – , já lidam há muito tempo, e que vão desde o assédio até a chegada inevitável da velhice.
Ora, como assim, a Barbie nunca viu uma idosa? Não! Bonecas não envelhecem…
“Barbie” é o que costumo chamar de produção “cebola”, porque é feita de diversas camadas. A camada da casca, superficial, te mostra apenas uma boneca se divertindo em seu próprio universo.
Mas, quanto mais você retira essas camadas, mais você vai se dando conta de que, a vida real não é um eterno “brincar de casinha”.
O longa faz críticas severas ao mercado de trabalho dominado por homens, à objetificação da mulher, e, até mesmo ao que a boneca “Barbie” representa esteticamente: um brinquedo que, por muito tempo, ditou um padrão de beleza e fez com que incontáveis meninas quisessem ser daquele jeito, loira, alta, cabelos longos, cintura fina, seios fartos e olhos azuis. O tal padrão inatingível.
O filme chega a retratar, mesmo que brevemente, as “Barbies” do mundo atual, com suas inseguranças, crises de ansiedade e depressão.
E acredite, a empresa Mattel, fabricante da boneca, não só está de acordo com o roteiro, como endossa e reconhece que as críticas aos padrões da “Barbie” estão certas. E é por isso que o longa fala incansavelmente sobre a importância da diversidade e da inclusão. Além de deixar bem claro o espaço que as mulheres ocupam na sociedade como um todo. Creio que “autodescoberta” seja a palavra-chave do filme.
O único problema, em meio a tantas mensagens ótimas que o filme quer passar, são os diálogos quase que intermináveis. As conversas longas parecem subestimar um pouco a inteligência do espectador.
Também é preciso estar de “mente aberta”, afinal, após um diálogo carregado de uma boa dose dramática, você pode ver uma piadinha boba, quase que infantil, e que corta o tom dramalhão da cena de forma quase que abrupta.
“Barbie” não só vale o ingresso do cinema, como vale a pena assistir mais de uma vez nas telonas para entendê-lo melhor, com toda a sua diversão e nostalgia, mas também em sua complexidade.
Se o filme vai vender mais bonecas ou não depois da estreia, eu não sei. O fato é que, depois de assistir “Barbie”, podemos olhar um pouco para nós mesmos e nos forçar a refletir mais sobre quem nós somos, e o melhor: quem nós queremos ser!
Confira o trailer do filme:
Foto: Reprodução/Warner Bros. Pictures